segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Está tudo bem agora.

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Ontem, domingo, meu pai quase morreu.
Eram dois caras, um armado, o outro não. Eles viram primeiro o pai do motoboy da pizzaria, que é surdo e por isso não entendeu que se tratava de um assalto.
Quando perceberam que do velho não arrumariam nada, foram para o filho, que, por natureza mesquinha ou instinto incontrolável (quem sou eu para dizer?) disse que não entregaria a carteira. O que estava desarmado o derrubou sem dificuldade, mesmo com todo seu peso, e os dois começaram uma luta no chão, logo acompanhada pelo homem que estava fora, o homem que estava armado.

Segundo meu pai, ele mirou, mirou de novo e ia atirar a queima roupa certeiramente na cabeça do rapaz, se não fosse uma cadeira de plástico que meu pai quebrara nas costas do homem.
Este por sua vez, o empurrou para o meio da rua e o derrubou, com um ponta-pé. Chutou meu pai quando estava no chão e atirou. 2 vezes. Errou as 2 vezes.

Quando os vizinhos saíram, alguns com facas e pedaços de pau, eles correram e deram mais um tiro, para assustar.

Eu gostaria de fazer uma reflexão poética, filosófica, sociológica e tal. Talvez uma citação, talvez Foucault.

Mas não dá. Eu estou com medo.
Eu estou assustado.

Eu quase perdi meu pai.

Nunca fui de respeitar as pessoas pelas relações consangüíneas. Prefiro respeitar e amar as pessoas pelo que elas são como humanos, não como familiares que, para mim, só servem para fotos.
Repito o que já disse (e que sempre digo), tenho irmãos que me tratam como estranhos e “estranhos” que me tratam como irmãos.
Mas meu pai...

Para quem não conhece meu pai, ele é um dos homens mais HUMANOS que conheço.
Erra porque é humano. Se julga, é porque é humano. Ele é forte como nunca vi ninguém ser tão forte e justo como ninguém que conheço possa ser tão justo. Sua balança só pende pro meu lado ou dos meus irmãos, involuntariamente.

Ele conhece a mesquinharia dos seres humanos. O motoboy estava com a carteira vazia, só tinha alguns documentos.
Mas também, como eu, acredita na inocência das pessoas. Sabia que o motoboy não podia perder a carteira, porque poderia perder a moto (os documentos da moto, de licenciamento, não estão no nome dele). E perder a moto é perder o emprego.
Não o emprego na empresa do meu pai. O bico. Porra, o cara tem 2 filhos, uma esposa e um pai surdo! A única fonte de renda dele é essa maldita moto, se ele quer trabalhar honestamente.

Eu não sei.
Não consigo exprimir o que sinto. Não hoje.

Mas está tudo bem agora.

[Obrigado aos meus amigos, que estavam comigo ontem, bebendo e se divertindo, e me sustentaram quando o mundo pareceu cair.]

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Isto não é uma crítica. Isto não é um texto. São só uns rabiscos de intimidade que prefiro compartilhar, para não esquecer.

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Na quinta feira fui assistir a “o Mágico” no cinema.
Desenho bacana. Ok. É Francês, sem quase diálogo algum e lembra muito o jeito de contar piada do Chaplin. Lembra uma época sépia, que o humor era provocativamente inocente.
Eu gostei. A De odiou. Falou que era parado demais e não entendeu. (Só que eu também adorei Scott Pilgrim e ela também odiou, então... sei lá.)
Na verdade, é mesmo um filme parado que me fez dormir em duas situações. Mas eu ainda sustento a minha desculpa, porque trabalhei o dia inteiro... bla bla bla... e estava cansado... bla bla bla...

Mas o que me importa é o enredo do filme:

“O Mágico conta a história de um artista que está em decadência, cuja fase de glória está sendo roubada por estrelas emergentes do rock. Forçado a aceitar tarefas cada vez mais obscuras, como se apresentar em bares falidos e festas no jardim, ele conhece uma jovem fã que muda sua vida para sempre.”

- segundo o site do Unibanco Art Plex.

É mais ou menos isso, acrescido de que uma destas “estrelas emergentes” do rock é uma banda ridiculamente clichê e gay, que me lembra muita coisa que eu vi por aí, e muita gente que eu conheci...

Mas o ponto principal é a decadência. Chega um momento na vida do coitado que só um menino e uma senhora surda o assistem. Ou quando ele tem que pagar para baterem algumas palmas a ele. Triste.
E acho que é exatamente por isso que gostei tanto do filme. Me reconheço no mágico, talvez por saber que serei o último a me reconhecer como irrelevante.
Porque eu sou teimoso, primeiramente, e depois, porque sou passional demais com tudo.
Ou infantil.
Fica a cargo do leitor decidir enquanto percebo que entendi o porque do formato desenhado do filme: me lembra uma infância, mesmo ainda adulta, que nunca tive.





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