quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Kodak, bucolismo e tons pastel.

.



Eu tenho uma visão melancólica da beleza.

Imagino que Quentin Tarantino tenha uma ácida, irônica, suja, cheia de sangue, acompanhada de surf music (e música da April March) visão da beleza.

Mas eu a acho melancólica.

Acho que as coisas mais bonitas que vi foram em fotografias desbotadas.

Por mais que eu adore as câmeras digitais e sua praticidade, tenho saudades dos rolos, revelações e lojinhas da Kodak que te entregavam 24 fotos em 1 hora. Lembra? E da espectativa, para saber como as fotos ficaram? E da desilusão, quando se revela a cara de bêbado, a camiseta horrível, o penteado equivocado ou os olhos fechados.

Meu tio se lembra bem: minha família é muito alta, mas os agregados são baixinhos e por isso, em fotos compostas de muitos integrantes, ou se cortava a cabeça do meu tio, ou minha tia aparecia sem pernas.

Mas não é isso que eu quero falar.

Para mim, a beleza se parece com uma foto antiga. Ou uma música do Beirut, ou do Yann Tiersen. Algo como o outono. Nada melancólico como um dramalhão, não, não é isso. É algo como Amélie Poulain.

Melhor: é algo com um carrossel.

Agora, penso, acho que a palavra não é melancolia, é nostalgia.

Porque talvez, e espero que só talvez, a beleza seja um escapismo.

Estava assistindo televisão em casa, chovia e eu não queria mais ver o jogo horroroso do corinthians, do qual nem gosto. Aí acabei colocando em algum canal que já não lembro e assisti “o Clube dos Cinco”.

Eu me lembro da infância, de nunca passar na Sessão da Tarde e do fato de minha mãe odiar este filme, porque tinha um maconheiro e um moleque nerd que pensava no suicídio. E era exatamente por isso que, nas raras vezes que eu poderia assisti-lo, adorava-o.

Mas, depois de domingo comecei a ver:

Cara. Que filme ridículo.

Superficial, bobo, falso, hipócrita.

A menina Lucy, tão linda quando era considerada louca, padroniza-se e arruma um namorado atleta. O coitado do nerd suicida é quem faz a redação, como sempre, porque os outros agora namoram e não têm tempo para essas futilidades.

A revolta de John Bender, é justificada pela família violenta e rude, numa interpretação rasa e obvia de Freud.

Ou seja, uma merda.

Então compreendi que se a utopia é o sonho com um futuro perfeito, a nostalgia é o equivalente para o passado.

e a beleza, bem. Ainda a acho nostálgica. E melancólica.

Porque a beleza para mim é o sonho idealizado da perfeição.

Bem, deixe-me voltar ao trabalho, porque estou enrolando...



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

(mais um, como todos os outros) Relatório: estou bem, apesar de tudo.

.


As vezes me canso disto.
Não agüento mais este professor falando, nem esta classe reacionária. Cansado de um emprego que eu não gosto, mas gosto. Aonde acho que não sou valorizado, por pura arrogância.
Tenho um serviço fácil, que qualquer macaco ou pedra faria. E olha que nem o executo tão bem assim... porém, me deixa inseguro mudar, mesmo insatisfeito. Tenho medo de voltar a luthieria e descobrir que sou um bosta. A confirmação seria terrível.
Me cansam algumas vozes, que vez ou outra somente, se pronunciam. Acho que estou ficando mais ranzinza; me dá saudade do desemprego desesperador de antes. A vida mudou muito rápido! O mundo girou e eu não estava de cinto de segurança ou algo assim. Só sei que caí, me espatifei e ainda estou confuso.
Minha namorada é uma fofinha, não tenho o que reclamar. É meu porto seguro e minha certeza. Meus bons momentos são com ela. De resto, só dúvidas: a banda, a faculdade, as amizades que chegaram e as que estão saindo.
Como tenho saudades da Zínia, meu Deus!
Ainda sonho com as músicas e com aquele quarto que cheirava mofo e cocô de coelho. Minha teleca e um x-v amp. Como as coisas seriam hoje? Minha jaguar e meu Daddy O?
Meu ampli chegando, alguns pedais nos planos, cordas suficientes, palhetas sobrando...
Seria tão bom tocar Balaam de novo... e como seriam as músicas novas?
Porém, cantar está me satisfazendo mais do que eu esperava. Cantar “elevador” e expurgar alguns demônios. E “Cash”? e as outras várias idéias? Acho que nunca fui tão otimista antes. Planejar músicas, ensaios... bolar invenções esquisitas para deixar tudo mais estranho... escrever, do jeito que eu gosto de escrever: diretamente. Sem rodeios. Escolher facilitar e fazer.
Mas, hoje eu entendo porque algumas pessoas param de tocar. É tão difícil! Você quer dormir, não praticar escalas gregorianas a 147 bpm!
Droga. Eu não era assim...
Achava que dormir era desperdício de tempo. Hoje, que durmo 4 horas por dia, durmo aonde consigo. No ônibus, no metrô, na fila. É foda.
Me sinto sufocado, as vezes. E, também as vezes, acabo colocando a culpa em outros fatores. Me falta ar, mas foi escolha minha.
Eu tenho mesmo é que forçar até o fim do fôlego, porque vale a pena.
Não pelo “futuro”, por um salário e tal. Se eu ligasse pra salário não faria história! Não na Uniban, pelo menos.
Eu não tenho idéia de “para onde”, nem de “o quê”, quem diria de “por quê”, mas no fundo – como diria o Dagoberto, quando ele diz do Bauman – “a vida é um elo fino em que se derrapa. Parar é cair e morrer congelado.”

Eu não posso parar?
Eu não quero parar.

Pelo menos por enquanto.


.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Divagação, para não deixar o blog sem atualização.

.


No meu bolso tenho uma caixa de sons dissonantes, distorcidos, diversos, até dissimulados que me levam para um outro lado do mundo.
Qualquer lado. Por exemplo:
Land of Talk me deixa calado e me faz sonhar com cores desbotadas.
Querer conhecer o Canadá e o gelo amontoado na calçada.
Eu entendo,
o mundo parece ser maior do que era antes, quando todos eram gigantes.
Isso. Assim mesmo.
Eu era pequeno e o mundo pequenino,
Hoje sou tão alto e o mundo infinito.

Porque não importa se eu conheço uma banda da Inglaterra, tenho um amigo na Jamaica e parentes em Madri. O que importa é que todos querem viver sozinhos, porque pessoas são incômodos.

Não importa se conheço a Maria, na Irlanda, se conheço o Rebetiko grego, se todo mundo quer sossego... paz e tranqüilidade, longe de pobre e barulho?

Não que eu goste da massa sonora da praça da Sé, as 18.
Prefiro o barulho do bule da minha mãe, fazendo café a tarde.
Prefiro sussurros.
Eu sou assim.

Syd Barrett me dá vontade de beber e conquistar o mundo. Ao mesmo tempo.
E quando a Gunhild Barling Band toca Hindustan? Me sinto num filme estranho sobre assassinos indianos.

Acho que poucas coisas unem tantas pessoas quanto a música. (e desune igualmente bem)
O trânsito, por exemplo.
Você pode ser um bosta, morar em uma casa bosta, comer bosta, ter um carro bosta ou um instrumento bosta.
Na música e no trânsito, todos são iguais.
Vai da qualidade do sujeito e não do que ele tem.

Queria que tudo fosse assim.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Esboço para uma teoria do acaso.

.


Eu que estou tentando a vida inteira entender o que a vida é,

entendi que é impossível calcular a influência do acaso em um dia comum.

Eu não posso te dizer que acredito, nem tão pouco que duvido de um plano maior.

Mas para mim é imprescindível acreditar, por a + b, que é o coração que faz a Terra girar.

O coração que força a Terra girar.





.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

canção.

.



Eu me cansei de ser seu guarda-chuva
de ser a sua blusa e lhe fiz esta canção,
que escrevi de coração, para explicar porque parti.

Eu entendo que você
esperava mais de mim
Mas o que há de se fazer
com uma recíproca tão ruim?

Eu atravessei o oceano
pra me livrar desse meu mal.
Duvidei de alguns planos,
mas no fundo isso é normal.

Esperei de porta aberta
num quarto de hotel,
me assustei com a descoberta
de um mundo tão cruel.

Eu me cansei de ser seu guarda chuva,
se ser a sua blusa e lhe fiz esta canção,
que escrevi de coração pra te explicar porque parti.

O que há de se fazer
com uma recíproca tão ruim?
Não ter o que falar
só esperar chegar o fim.

Duvidei de alguns planos
mas no fundo isso é normal.
A vida é um fracasso,
constato isso no jornal.

Me assustei com a descoberta
de um mundo tão cruel.
De honestidade tão modesta
e verdades de papel.

Eu me cansei de ser seu guarda chuva,
se ser a sua blusa e lhe fiz esta canção,
que escrevi de coração pra te explicar porque parti.


.

terça-feira, 6 de julho de 2010

(sem título)

.


Eu me sinto um japonês,
figurante de um filme do Godzilla.
Enquanto ele luta com a Morsa-Gigante,
vejo-os destruir aquelas pontes de isopor e aqueles prédios de papelão
e só o que faço é correr, gritar e chorar,
esperando não ser pisoteado por nenhum dos dois.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

1) Canção curta.

.


Nunca soubera ser feliz, até que algo mudou. Debaixo da armadura, sentia uma canção nascer em suas roupas pretas, assim tão gastas. Olha só como ele se comporta quando está assim, com ela no jardim brincando de Adão e Eva.
“Me leva daqui. Que eu não sou daqui. Eu não sou daqui”.
Teceu uma bandeira com saudade fina, e hasteou para todo o mundo ver,

que o seu país já não tinha mais um rei.



.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Peguei o título do último post e transformei em texto.

.


Ando sem vontade de escrever.
Assim, deixe-me explicar bem. Tenho vontade sim, mas não tenho o que dizer. Na verdade tenho, mas não sei como. Isso se dá pelo fato de saber como, mas não querer espalhar. É que eu quero manter isso para mim, mesmo quando penso em gritar para o mundo todo, que não me quer ouvir. Acho que sei como, mas nunca poderei expressar isso tudo o que sinto. Este turbilhão de sentimentos difíceis que a humanidade gosta de resumir em poucas palavras fáceis.
E eu, sendo a contradição que sou, prefiro sentir ao invés de falar. Mas não deixarei de falar que, finalmente, eu sinto.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"Estou aqui para dizer que só queria me calar um pouco."

.


Era agosto ou outubro. Ou junho ou dezembro.
Já não me lembro por que tudo era tão bom o ano inteiro.
Era como se fosse sempre aconchegante, feito inverno.

Faz tempo que não sinto frio.
Hoje me sinto como um homem de palha num mundo de sol.
E a vontade que eu tenho de dormir me consome as forças para afastar.

Acho que me precipitei, afinal.
Eu não devo estar feliz, mas esperançoso.
Mas não significa que eu saiba lidar com isso.

Eu só sei lidar com o que eu sei.
Sei lidar com que compreendo. Com aquilo que consigo entender.
Consigo conversar a distância com alguém que me é próximo, mas me arrasa a proximidade de alguém que está distante.

Isso eu não sei lidar.


Lembro de como agosto e outubro foram.
Quando junho e dezembro chegavam...
Da primavera, do verão e do outono.

Eu sinto tanta falta.
Não porque se foram.
(Os meses vão e o ano vai, mas você fica. Às vezes até em paz.)
Mas por que era sempre inverno.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pois é.

.


Eu não sei. Talvez as coisas passem a dar certo mesmo.

É estranho me ver otimista, sabe?
Quando me sinto assim, logo desconfio que algo dará errado.

É simples: eu não sou um cara muito sortudo.
Outro dia fui ver meu horóscopo no jornal e um passarinho cagou na minha cabeça.
Desisti antes de ler.

Ou então quando me apaixonei por uma menina linda, e ela começou a dar risada assim que a beijei.

Isso mesmo.

Rir.

Gargalhar, na verdade.

Todas as (2) vezes.

Desconfio desde então.


Mentira. Desconfio desde sempre.
Eu não tenho facilidade em ser otimista, entende?
Faz parte de mim, eu acho.
Eu me viro bem quando coisas ruins acontecem, mas acho que não sei aproveitar as coisas boas.

Eu arrumei um emprego legal, depois de 11 meses desempregado.
11 meses!
Sem estudar, ou me dedicar tanto, passei para a segunda fase da fuvest
E eu me sinto bem.
Até planejo o futuro.
Mas todo mundo continua me olhando e perguntando:
‘Você está feliz?’


É que... entenda... Eu não sou um cara muito sortudo.
Mas até acho que estou feliz.